terça-feira, 25 de outubro de 2011

Friedrich Engels

Serviço Social Marcas:


Friedrich Engels faleceu em Londres a 5 de Agosto (24 de Julho) de 1895. A seguir ao seu amigo Karl Marx (que morreu em 1883), Engels foi o mais notável sábio e mestre do proletariado contemporâneo em todo o mundo civilizado. Desde o dia em que o destino juntou Karl Marx e Friedrich Engels, a obra a que os dois amigos consagraram toda a sua vida converteu-se numa obra comum.
Assim, para compreender o que Friedrich Engels fez pelo proletariado, é necessário ter-se uma ideia precisa do papel desempenhado pela doutrina e actividade de Marx no desenvolvimento do movimento operário contemporâneo. Marx e Engels foram os primeiros a demonstrar que a classe operária e as suas reivindicações são um produto necessário do regime económico actual que, juntamente com a burguesia, cria e organiza inevitavelmente o proletariado; demonstraram que não são as tentativas bem intencionadas dos homens de coração generoso que libertarão a humanidade dos males que hoje a esmagam, mas a luta de classe do proletariado organizado.
Marx e Engels foram os primeiros a explicar, nas suas obras científicas, que o socialismo não é uma invenção de sonhadores, mas o objectivo final e o resultado necessário do desenvolvimento das forças produtivas da sociedade actual. Toda a história escrita até aos nossos dias é a história da luta de classes, a sucessão no domínio e nas vitórias de umas classes sociais sobre outras. E este estado de coisas continuará enquanto não tiverem desaparecido as bases da luta de classes e do domínio de classe: a propriedade privada e a produção social anárquica. Os interesses do proletariado exigem a destruição destas bases, contra as quais deve, pois, ser orientada a luta de classe consciente dos operários organizados. E toda a luta de classe é uma luta política.
Todo o proletariado que luta pela sua emancipação tornou hoje suas estas concepções de Marx e Engels; mas nos anos 40, quando os dois amigos começaram a colaborar em publicações socialistas e a participar nos movimentos sociais da sua época, eram inteiramente novas. Então, eram numerosos os homens de talento e outros sem talento, honestos ou desonestos, que, no ardor da luta pela liberdade política, contra a arbitrariedade dos reis, da polícia e do clero, não viam a oposição dos interesses da burguesia e do proletariado. Não admitiam sequer a ideia de os operários poderem agir como força social independente. Por outro lado, um bom número de sonhadores, algumas vezes geniais, pensavam que seria suficiente convencer os governantes e as classes dominantes da iniquidade da ordem social existente para que se tornasse fácil fazer reinar sobre a terra a paz e a prosperidade universais. Sonhavam com um socialismo sem luta.
Finalmente, a maior parte dos socialistas de então e, de um modo geral, os amigos da classe operária, não viam no proletariado senão uma chaga a cujo crescimento assistiam com horror à medida que a indústria se desenvolvia. Por isso todos procuravam o modo de parar o desenvolvimento da indústria e do proletariado, parar a «roda da história». Contrariamente ao temor geral ante o desenvolvimento do proletariado, Marx e Engels punham todas as suas esperanças no contínuo crescimento numérico deste. Quanto mais proletários houvesse, e maior fosse a sua força como classe revolucionária, mais próximo e possível estaria o socialismo. Pode exprimir-se em poucas palavras os serviços prestados por Marx e Engels à classe operária dizendo que eles a ensinaram a conhecer-se e a tomar consciência de si mesma, e que substituíram os sonhos pela ciência.
É por isso que o nome e a vida de Engels devem ser conhecidos por todos os operários; é por isso que, na nossa compilação, cujo fim, como o de todas as nossas publicações, é acordar a consciência de classe dos operários russos, devemos dar um apanhado da vida e da actividade de Friedrich Engels, um dos dois grandes mestres do proletariado contemporâneo.
Engels nasceu em 1820 em Barmen, na província renana do reino da Prússia. O pai era um fabricante. Em 1838, Engels teve de abandonar por motivos familiares os estudos no liceu e de entrar como empregado numa casa de comércio de Bremen. Este trabalho não o impediu de completar a sua instrução científica e política. Foi desde o liceu que ele ganhou ódio ao absolutismo e à arbitrariedade da burocracia. Os seus estudos de filosofia levaram-no ainda mais longe. Predominava então na filosofia alemã a doutrina de Hegel, e Engels tornou-se seu discípulo. Embora Hegel fosse, por seu lado, um admirador do Estado prussiano absolutista, ao serviço do qual se encontrava na qualidade de professor na Universidade de Berlim, a sua doutrina era revolucionária. A fé de Hegel na razão humana e nos seus direitos e o princípio fundamental da filosofia hegeliana segundo o qual o mundo é teatro de um processo permanente de mudança e desenvolvimento conduziram os discípulos do filósofo berlinense, que não queriam acomodar-se à realidade, à ideia de que a luta contra a realidade, a luta contra a iniquidade existente e o mal reinante, também procede da lei universal do desenvolvimento perpétuo.
Se tudo se desenvolve, se certas instituições são substituídas por outras, porque é que o absolutismo do rei da Prússia ou do tsar da Rússia, o enriquecimento de uma ínfima minoria à custa da imensa maioria, o domínio da burguesia sobre o povo, hão-de perdurar eternamente? A filosofia de Hegel tratava do desenvolvimento do espírito e das ideias; era idealista. Do desenvolvimento do espírito a filosofia de Hegel deduzia o desenvolvimento da natureza, do homem e das relações entre os homens no seio da sociedade. Retomando a ideia hegeliana de um processo perpétuo de desenvolvimento(1), Marx e Engels rejeitaram a sua preconcebida concepção idealista; analisando a vida real, viram que não é o desenvolvimento do espírito que explica o da natureza, mas que, pelo contrário, é necessário explicar o espírito a partir da natureza, da matéria...
Contrariamente a Hegel e outros hegelianos, Marx e Engels eram materialistas. Partindo de uma concepção materialista do mundo e da humanidade, verificaram que, tal como todos os fenómenos da natureza têm causas materiais, igualmente o desenvolvimento da sociedade humana é condicionado pelo desenvolvimento de forças materiais, as forças produtivas. Do desenvolvimento das forças produtivas dependem as relações que se estabelecem entre os homens no processo de produção dos objectos necessários à satisfação das necessidades humanas.
E são estas relações que explicam todos os fenómenos da vida social, as aspirações do homem, as suas ideias e as suas leis. O desenvolvimento das forças produtivas cria relações sociais que se baseiam na propriedade privada; mas vemos hoje esse mesmo desenvolvimento das forças produtivas privar a maioria dos homens de toda a propriedade e concentrar esta nas mãos de uma ínfima minoria; ele destrói a propriedade, base da ordem social contemporânea, e tende ele próprio para o objectivo que se fixaram os socialistas. Estes últimos devem apenas compreender qual é a força social que, pela sua situação na sociedade actual, está interessada na realização do socialismo, e incutir nesta força a consciência dos seus interesses e da sua missão histórica. Esta força é o proletariado. Engels conheceu-o na Inglaterra, em Manchester, centro da indústria inglesa, onde se fixou em 1842 como empregado de uma firma comercial de que seu pai era um dos accionistas. Aí Engels não se limitou a permanecer no escritório da fábrica: percorreu os bairros sórdidos em que viviam os operários e viu com os seus próprios olhos a miséria e os males que os afligiam.
Não se limitando à sua observação pessoal, Engels leu tudo o que antes dele se tinha escrito sobre a situação da classe operária inglesa e estudou minuciosamente todos os documentos oficiais que pôde consultar. O resultado dos seus estudos e observações foi um livro que saiu em 1845: A Situação da Classe Operária em Inglaterra. Já atrás assinalámos o principal mérito de Engels como autor dessa obra. É certo que antes dele muitos tinham descrito os sofrimentos do proletariado e indicado a necessidade de lhe prestar ajuda. Engels foi o primeiro a declarar que o proletariado não é só uma classe que sofre, mas que a miserável situação económica em que se encontra empurra-o irresistivelmente para a frente e obriga-o a lutar pela sua emancipação definitiva.
E o proletariado em luta ajudar-se-á a si mesmo.
O movimento político da classe operária levará, inevitavelmente, os operários à consciência de que não há para eles outra saída senão o socialismo. Por seu lado, o socialismo só será uma força quando se tornar o objectivo da luta política da classe operária. Tais são as ideias fundamentais do livro de Engels sobre a situação da classe operária em Inglaterra, ideias hoje aceites por todo o proletariado que pensa e luta, mas que eram então absolutamente novas. Estas ideias foram expostas numa obra escrita num estilo cativante onde abundam os quadros mais verídicos e impressionantes da miséria do proletariado inglês. Este livro era uma terrível acusação contra o capitalismo e a burguesia. Produziu uma impressão muito grande. Em breve, por toda a parte começaram a referir-se a ele como o quadro mais fiel da situação do proletariado contemporâneo. E, com efeito, nem antes nem depois de 1845 apareceu uma descrição tão brilhante e tão verdadeira dos males sofridos pela classe operária.
Engels só se tornou socialista em Inglaterra. Em Manchester pôs-se em contacto com os militantes do movimento operário inglês de então e começou a escrever para as publicações socialistas inglesas. Em 1844, ao passar por Paris de regresso à Alemanha conheceu Marx, com quem se correspondia já há algum tempo, e que se tinha igualmente tornado socialista durante a sua estada em Paris, sob a influência dos socialistas franceses e da vida em França. Foi aí que os dois amigos escreveram em conjunto A Sagrada Família ou Crítica da Crítica Crítica.
Este livro, escrito na sua maior parte por Marx, e saído um ano antes de A Situação da Classe Operária em Inglaterra, contém as bases do socialismo materialista revolucionário de que atrás expusemos as ideias essenciais. A Sagrada Família é uma denominação jocosa dada a dois filósofos, os irmãos Bauer, e aos seus discípulos. Estes senhores pregavam uma crítica que se colocava acima de toda a realidade, acima dos partidos e da política, repudiava toda a actividade prática e limitava-se a contemplar «criticamente» o mundo circundante e os acontecimentos que nele se produziam. Os senhores Bauer qualificavam desdenhosamente o proletariado de massa desprovida de espírito crítico. Marx e Engels opuseram-se categoricamente a esta tendência absurda e nefasta.
Em nome da verdadeira personalidade humana, do operário espezinhado pelas classes dominantes e pelo Estado, Marx e Engels exigiam não uma atitude contemplativa, mas a luta por uma melhor ordem social. Era, evidentemente, no proletariado que eles viam a força capaz de travar esta luta e directamente interessada em fazê-la triunfar. Já antes do aparecimento de A Sagrada Família, Engels tinha publicado na revista Anais Franco-Alemães editada por Marx e Ruge o seu Estudo Crítico sobre a Economia Política[N58] em que analisava, de um ponto de vista socialista, os fenómenos essenciais do regime económico contemporâneo como consequências inevitáveis da dominação da propriedade privada. As suas relações com Engels contribuíram incontestavelmente para que Marx se decidisse a ocupar-se do estudo da economia política, ciência em que os seus trabalhos iriam operar uma verdadeira revolução.
De 1845 a 1847 Engels viveu em Bruxelas e em Paris, aliando os estudos científicos com uma actividade prática entre os operários alemães destas duas cidades. Foi aí que Marx e Engels entraram em contacto com uma associação secreta alemã, «Liga dos Comunistas», que os encarregou de expor os princípios fundamentais do socialismo elaborado por eles. Assim nasceu o célebre Manifesto do Partido Comunista de Marx c Engels, publicado em 1848. Este pequeno livrinho vale por tomos inteiros: ele inspira e anima até hoje todo o proletariado organizado e combatente do mundo civilizado.
A revolução de 1848, que rebentou primeiro em França e se propagou em seguida aos outros países da Europa ocidental, permitiu a Marx e Engels regressarem à sua pátria. Aí, na Prússia renana, tomaram a direcção da Nova Gazeta Renana, jornal democrático que se publicava em Colónia. Os dois amigos eram a alma de todas as tendências democráticas revolucionárias da Prússia renana. Defenderam até ao fim os interesses do povo e da liberdade contra as forças da reacção. Estas últimas, como é sabido, acabaram por triunfar. A Nova Gazeta Renana foi proibida. Marx, que enquanto se encontrava na emigração tinha sido privado da nacionalidade prussiana, foi expulso. Quanto a Engels, tomou parte na insurreição armada do povo e combateu em três batalhas pela liberdade, e, após a derrota dos insurrectos, fugiu para Londres através da Suíça.
Foi igualmente em Londres que Marx veio fixar-se. Engels em breve voltou a ser empregado, e mais tarde sócio, da mesma casa comercial de Manchester onde tinha trabalhado nos anos 40. Até 1870 Engels viveu em Manchester e Marx em Londres, o que não os impediu de estar em estreito contacto espiritual; escreviam-se quase todos os dias. Nessa correspondência, os dois amigos trocavam as suas ideias e os seus conhecimentos, e continuaram a elaborar em conjunto a doutrina do socialismo científico. Em 1870, Engels veio fixar-se em Londres, e a sua vida intelectual conjunta, cheia de uma actividade intensa, prosseguiu até 1883, data da morte de Marx. Esta colaboração foi extremamente fecunda: Marx escreveu O Capital, a mais grandiosa obra de economia política do nosso século, e Engels toda uma série de trabalhos, grandes e pequenos. Marx dedicou-se à análise dos fenómenos complexos da economia capitalista.
Engels escreveu, num estilo simples, obras muitas vezes polémicas em que esclarecia os problemas científicos mais gerais e os diversos fenómenos do passado e do presente, inspirando-se na concepção materialista da história e na teoria económica de Marx. Dentre esses trabalhos de Engels citaremos: a sua obra polémica contra Dühring (onde analisa as questões capitais da filosofia, assim como das ciências naturais e sociais)(2), A Origem da Família, da Propriedade Privada e do Estado (tradução russa saída em São Petersburgo, 3.a edição, 1895), Ludwig Feuerbach (tradução russa anotada por G. Plekhánov, Genebra, 1892), um artigo sobre a política externa do governo russo (traduzido em russo no Sotsial-Demokrat de Genebra, n.° 1 e 2)[N61], notáveis artigos sobre o problema da habitação[N62], e, finalmente, dois artigos, curtos mas de grande interesse, sobre o desenvolvimento económico da Rússia (Friedrich Engels sobre a Rússia[N63], tradução russa de Vera Zassúlitch, Genebra, 1894). Marx morreu sem ter conseguido completar a sua obra monumental sobre o capital. Contudo esta obra estava já terminada em rascunho e Engels, após a morte do amigo, assumiu a pesada tarefa de redigir e publicar os tomos II e III de O Capital. Editou o tomo II em 1885 e o tomo III em 1894 (não teve tempo de redigir o tomo IV) [N64]. Estes dois tomos exigiram um trabalho enorme da sua parte. O social-democrata austríaco Adler observou muito justamente que, editando os tomos II e III de O Capital, Engels ergueu ao seu genial amigo um grandioso monumento no qual, involuntariamente, tinha gravado também o seu próprio nome em letras indeléveis.
Estes dois tomos de O Capital são, com efeito, obra de ambos, de Marx e Engels. As lendas da Antiguidade contam exemplos comoventes de amizade. O proletariado da Europa pode dizer que a sua ciência foi criada por dois sábios, dois lutadores, cuja amizade ultrapassa tudo o que de mais comovente oferecem as lendas dos antigos. Engels, em geral com toda a razão, sempre se apagou diante de Marx. «Ao lado de Marx, escreveu ele a um velho amigo, fui sempre o segundo violino.»[N65] O seu carinho por Marx enquanto este viveu e a sua veneração à memória do amigo morto foram ilimitados. Este militante austero e pensador rigoroso tinha uma alma profundamente afectuosa.
Durante o seu exílio, depois do movimento de 1848-1849, Marx e Engels não se dedicaram unicamente ao trabalho científico. Marx fundou em 1864 a "Associação Internacional dos Trabalhadores», de que assegurou a direcção durante dez anos. Engels desempenhou nela, igualmente, um papel considerável. A actividade da «Associação Internacional», que unia, de acordo com os ideais de Marx, os proletários de todos os países, teve uma enorme importância no desenvolvimento do movimento operário. Mesmo após a sua dissolução, nos anos 70, continuou o papel de Marx e Engels como unificadores da classe operária. Melhor: pode dizer-se que a sua importância como dirigentes espirituais do movimento operário não cessou de crescer, pois o próprio movimento se desenvolvia sem parar. Após a morte de Marx, Engels, sozinho, continuou a ser o conselheiro e o dirigente dos socialistas da Europa. A ele vinham pedir conselhos e indicações tanto os socialistas alemães, cuja força crescia contínua e rapidamente apesar das perseguições governamentais, como os representantes dos países atrasados, por exemplo, os espanhóis, romenos, russos, que meditavam e mediam então os seus primeiros passos. Todos eles corriam ao riquíssimo tesouro dos conhecimentos e experiência do velho Engels.
Marx e Engels, que conheciam o russo e liam obras publicadas nessa língua, interessaram-se vivamente pela Rússia, seguiam com simpatia o movimento revolucionário do nosso país e mantinham relações com os revolucionários russos. Ambos eram já democratas antes de se tornarem socialistas e tinham profundamente arraigado o sentimento democrático de ódio à arbitrariedade política. Este sentimento político nato, aliado a uma profunda compreensão teórica da relação existente entre a arbitrariedade política e a opressão económica, assim como a sua riquíssima experiência da vida, tinham tornado Marx e Engels extraordinariamente sensíveis precisamente no sentido político.
Por isso a luta heróica de um pequeno punhado de revolucionários russos contra o poderoso governo tsarista encontrou a mais viva simpatia no coração dos dois experimentados revolucionários. Inversamente, toda a veleidade de voltar as costas, em nome de pretensas vantagens económicas, à tarefa mais importante e mais imediata dos socialistas russos — a conquista da liberdade política — parecia-lhes naturalmente suspeita, vendo mesmo nisso uma traição à grande causa da revolução social. «A emancipação do proletariado deve ser obra do próprio proletariado», eis o que ensinavam constantemente Marx e Engels[N66]. E para lutar pela sua emancipação económica, o proletariado deve conquistar certos direitos políticos. Além disso, Marx e Engels viram com toda a clareza que uma revolução política na Rússia teria também uma enorme importância para o movimento operário na Europa ocidental. A Rússia autocrática foi sempre o baluarte de toda a reacção europeia.
A situação internacional excepcionalmente favorável em que a Rússia se encontrou depois da guerra de 1870, que semeou durante muito tempo a discórdia entre a França e a Alemanha, não podia evidentemente deixar de fazer aumentar a importância da Rússia autocrática como força reaccionária. Só uma Rússia livre, que não tivesse necessidade de oprimir os Polacos, os Finlandeses, os Alemães, os Arménios e outros pequenos povos, nem de lançar, incessantemente, a França e a Alemanha uma contra a outra, permitiria à Europa contemporânea respirar aliviada do peso das guerras, enfraqueceria todos os elementos reaccionários da Europa e aumentaria as forças da classe operária europeia. Por isso mesmo Engels advogou calorosamente a instauração da liberdade política na Rússia no próprio interesse do movimento operário do Ocidente. Os revolucionários russos perderam nele o seu melhor amigo.
Fonte: www.marxists.org
Friedrich Engels
Barmen, 1820 - Londres, 1895
Filósofo alemão. Oriundo de uma família da burguesia industrial, observa e conhece desde jovem as penosas condições de vida dos trabalhadores, tanto na Alemanha como em Inglaterra. Independentemente de Marx, e inclusive antes dele, chega a posições teóricas e políticas revolucionárias. Prova disso é a sua obra de 1845, A Situação da Classe Trabalhadora em Inglaterra, fruto de dois anos de estada em Manchester. Este livro é a sua primeira análise de uma situação histórica determinada, cujas formas de existência e de luta social são explicáveis em virtude das condições económicas dominantes. A partir deste delineamento, Engels postula a necessidade de uma transformação radical de tipo comunista. A atitude intelectual de Engels diferencia-se da de Marx: enquanto o primeiro se centra no carácter concreto dos fenómenos que estudava, o segundo fá-lo com um alto nível de abstracção. Em termos gerais esta característica mantém-se ao longo de toda a sua colaboração. Fruto dela, assim como da sua dedicação à luta política, são o Manifesto do Partido Comunista, de 1848, e a constituição, dois anos mais tarde, de uma Associação Internacional de Trabalhadores.
Em 1848 instala-se em Manchester, de onde colabora activamente na tentativa revolucionária que tem lugar nesse ano, entre outros locais, na Alemanha. Engels, sem perder de vista os estudos e análises económicas de Marx, dedica-se a pôr-se em dia quanto aos grandes progressos registados naqueles anos nos diversos ramos do saber. Graças a esta incansável actividade intelectual pode preparar e completar a edição de boa parte de O Capital, de Karl Marx, e elaborar uma série de escritos polémicos destinados a esclarecer as fases do materialismo: A Revolução Científica do Senhor Dühring (obra conhecida como Anti-Dühring), A Origem da Família da Propriedade Privada e do Estado e A Dialéctica da Natureza (publicada postumamente).
Fonte: www.vidaslusofonas.pt
Friedrich Engels
ENGELS, Friedrich (1820-1895).
Dirigente e mestre do proletariado; fundou, em colaboração com Karl Marx, a teoria marxista, a teoria do comunismo científico, a filosofia do materia­lismo dialéctico e histórico.
Nasceu na cidade de Barmen (Alemanha).
Desde os ‘seus anos de juventude, Engels sentiu-se atraído para a luta pela transformação das relações sociais dominantes.
No Outono de 1841, ingressou no serviço militar, que cumpriu em ‘Berlim; aproveitava o tempo livre para assistir a aulas da Universidade.
Aderiu à ala esquerda dos jovens hegelianos.
Publicou, então, uma brilhante e profunda crítica às ideias místico-religiosas de Schelling (Schelling e a revelação», 1842, e outros trabalhos).
Simultaneamente, critica também Hegel pelas suas conclusões conservadoras e pelas contradi­ções da sua dialéctica idealista.
Nas ideias de ‘Engels, produz-se uma autêntica mudança radical quando se encontra em Inglaterra, país a que se deslocara, por insistência de seu pai, para se dedicar aos estudos comerciais.
Ao tomar contacto com a vida da classe operária do país do capitalismo então mais desenvolvido, Engels reflectiu profundamente sobre as causas da insuportável situação económica do proletariado e da sua carência de direitos políticos, estudou as insuficiências ideológicas que se notavam no movimento cartista, com as sua ideias utópicas sobre a renúncia voluntária dos capitalistas ao poder.
Em resultado dos seus estudos, apareceram os trabalhos «Apontamentos para uma crítica da economia política» (1844), qualificado por Marx como esboço genial da crítica às categorias económicas, e «A situação da classe operária na Inglaterra» (publicado em 1845).
Nesses trabalhos, Engels deu uma explicação científica da missão histórica do proletariado, pela primeira vez que o proletariado não é apenas uma classe que sofre, como, ainda, uma classe que luta pela sua libertação.
Em Inglaterra, Engels torna-se socialista.
Em breve abandona este pais e em 1844 encontra-se com Marx em Paris.
Aquele encontro foi o ponto de partida da profunda e comovedora amizade dos dois grandes homens, amizade que se cimentava numa comunidade de ideias e de luta prática.
As obras «A Sagrada Família Alemã» e «A Ideologia Alemã», por eles escritas em 1844-1846, são consagradas ao exame crítico das concepções filosóficas - então dominantes - de Hegel, Feuerbach e seus discípulos, assim como à elaboração dos fundamentos do materialismo dialéctico e histórico.
Simultaneamente, Marx e Engels levam a cabo um imenso trabalho prático para organizar a «Liga dos Comunistas», depois convertida no partido revolucionário do proletariado.
Em 1847, Engels escreve o projecto de programa da «Liga», «Princípios do comunismo», que depois foi como base para a elaboração do «Manifesto do Partido comunista» (1848), que proclamava o nascimento de uma doutrina marxista íntegra, da ideologia científica da classe operária.
A actividade jornalística de Engels foi de grande importância para a propaganda da teoria da luta proletária e para dar coesão às forças democráticas.
Engels recebe o baptismo de fogo nos acontecimentos que tiveram lugar na Alemanha em 1848-1849, combatendo nas fileiras das tropas revolucionárias.
Vencida a revolução, abandona a sua terra com os últimos destacamentos de patriotas.
Nos anos seguintes, vivendo na emigração, Engels generaliza a experiência da revolução alemã nos seus trabalhos «A guerra camponesa na Alemanha» e «Revolução e contra-revolução na Alemanha», revelando o papel dos camponeses como aliados do proletariado e desmascarando a traição da burguesia.
Depois de ter fixado a sua residência na Inglaterra, para onde também se muda Marx, Engels participa activamente •no movi­mento operário, na fundação da ‘1 Internacional e na luta contra as concepções oportunistas pequeno-burguesas e anarquistas.
Desde então, Engels, no decurso de quatro decénios, ajuda por todos os meios Marx no trabalho que este leva a cabo sobre «O Capital», cujos segundo e terceiro tomas são •editados pelo próprio Engels, já depois da morte do seu grande amigo, desen­volvendo um enorme labor de investigação.
Enquanto Marx dedicava a sua principal atenção à preparação de «O Capital», Engels continuava trabalhando para fundamentar e desenvolver em todos os sentidos a filosofia do materialismo dialéctica ~ histórico.
A sua contribuição para dotar de sólidos conhecimentos a filosofia do marxismo, é imensa.
Obras como «Ludwig Feuerbach e o fim da filosofia clássica alemã», o «Anti-Dühring», «A origem da família, da propriedade privada e do Estado», e outras, con­tinuam constituindo a explicação clássica da essência e do valor da filosofia marxista.
É singularmente elevado o mérito de Engels no que se refere à aplicação das ideias do materialismo dialéctica à ciência natural.
As teses enunciadas por Engels nos livros «:Ludwig Feuerbach.
», «Anti-Duhring» e, sobretudo, «Dia­léctica da Natureza» são ideias cuja profundidade só começou a ser entendida depois de muitos decénios.
Muitas das desco­bertas fundamentais da ciência do século XX foram, na essência, previstas por Engels (por exemplo, a concepção da indissolubilidade entre a matéria e o movimento, assim como a teoria, relacionada com esta ideia, da unidade de espaço e tempo; a representação acerca do carácter inesgotável das formas da matéria e da complexa estrutura do átomo; a crítica da teoria sobre a «morte térmica» do universo; a concepção da vida como forma do movimento da matéria e como surgida num determinado estádio do desenvolvimento da natureza inorgânica, etc.).
Os seus grandes conhecimentos sobre diversos ramos do saber, permitiram a Engels elaborar um sistema bem estruturado de classificação das ciências, situando, na base do que têm de especifico cada uma das disciplinas, as formas objectivas do movimento da matéria.
Engels nega-se decididamente a atribuir à filosofia o papel que lhe não corresponde de ciência das ciências e insiste no valor metodológico da filosofia.
Proporcionou à filosofia uma bússola que lhe permite orientar-se nos inumeráveis sistemas e escolas do passado ao formular o problema básico da filosofia e ao pôr a claro o carácter de classe que esta possui.
São de extraordinária importância a contribuição de Engels para o desenvolvimento da teoria do conhecimento e a sua crítica do agnosticismo.
Possuem um valor duradouro e a sua proposição e elaboração de vários problemas da lógica dialéctica.
Engels desenvolve as teses fundamentais do materialismo histórico e dedica muita atenção à crítica das representações vulgares sobre a concepção materialista da história demonstra que o papel determinante das condições económica na vida dos homens não reduz no que quer que seja a transcendência das ideias, nem tão-pouco o significado da personalidade na história, luta contra as interpretações mecanicistas do nexo e da correlação entre a base e a superestrutura ideológica, etc.
DIALÉCTICA DA NATUREZA
Obra de Engels, publicada pela primeira vez na URSS (1925).
Compõe-se de uma série de escritos (1873-1886) sobre os mais importantes problemas da dialéctica da natureza.
Engels considerava que a filosofia do materialismo dialéctico, devia basear-se no conhecimento das ciências naturais em todos os seus aspectos, e que estas ciências, por sua vez, só se podem desenvolver fecundante na base do materialismo dialéctico.
Na «Dialéctica da natureza» faz-se uma profunda investigação filosófica da história e dos problemas capitais da ciência natural, uma crítica do materialismo mecanicista, do método metafísico, assim como das con­cepções idealistas na ciência natural.
Muito versado na ciência da sua época, Engels mostrou como a concepção metafísica da natureza se quebra internamente devido ao próprio avanço da ciência e deve ceder o seu lugar ao método dialéctico; sublinhou, igualmente, que os naturalistas se vêem crescentemente obrigados a passar do pensamento metafísico ao dialéc­tico, o que se reflecte muito fecundamente na própria ciência natural.
Engels expôs, dando-lhe um amplo e sólido fundamento, a teoria materialista dialéctica sobre as formas do movimento da matéria; aplicando esta teoria, investigou os princípios relativos à classificação das ciências naturais, estabeleceu a sua classificação concreta que utilizou na estruturação do seu trabalho.
Engels submeteu a uma circunstanciada investigação filosófica as leis fundamentais da ciência natural e mostrou o carácter dialéctico destas leis.
Assim, revelou o sentido autêntico da lei da conservação e transformação da energia, a que denominou lei absoluta da natureza.
Examinou também o chamado segundo principio da termodinâmica e mostrou a falsidade da conclusão segundo a qual o universo se encaminha para a sua morte térmica («Morte térmica» do universo).
Depois, Engels analisou com grande profundidade a teoria de Darwin sobre a origem das espécies e demonstrou que o seu conteúdo principal - a teoria do desenvolvimento concorda completamente com a dialéctica materialista.
Simultaneamente, descobriu na darwiniana certas lacunas e insuficiências.
Dedicou muita atenção ao estudo do papel do trabalho na formação e desenvolvimento do homem.
Demonstrou, também, que as operações e conceitos matemáticos são um reflexo das relações que se verificam entre coisas e processos na própria natureza, em que aqueles têm os seus protótipos reais; sublinhou que a introdução da grandeza variável na matemática superior significa que a dia­léctica penetra nela.
Engels investigou a relação entre casualidade e necessidade.
Com admirável mestria dialéctica salientou o erro tanto da posição idealista como da posição mecanicista na focalização deste complexo problema e deu-lhe uma solução marxista; pôs a claro, tomando como exemplo a teoria darwiniana, que a própria ciência natural confirma e concretiza as teses da dialéctica.
Claro está que algumas questões particulares que se relacionam com problemas especiais da ciência natural e que foram tratados por Engels na sua «Dialéctica da natureza» envelheceram, e não podiam deixar de envelhecer, dado o enorme progresso da ciência; mas a maneira materialista dialéctica de proceder à análise das questões científicas e de filosóficos e as generalizar, conserva inteiramente a sua actualidade nos nossos dias.
Muitas das teses da obra anteciparam-se em dezenas de anos ao desenvolvimento da ciência natural.
O livro constitui um modelo de como se deve focar de modo dialéctico, os complicados problemas desta ciência.
Engels não tinha preparado para a impressão a sua «Dialéctica da natureza», que consta de artigos soltos, notas e fragmentos, facto que se deve ter em conta ao proceder ao estudo da obra.
Fonte: uk.geocities.com

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