sábado, 2 de junho de 2012

Entenda um conceito fundamental da teoria marxista

da Folha Online

A mais-valia é um dos conceitos mais importantes do pensamento marxista. Por meio dele podemos compreender a exploração capitalista e a própria história do século 20.

Reprodução

Livro explica a obra de Marx, seus principais conceitos e suas "profecias"

Livro explica a obra, os principais conceitos e suas "profecias"

"Marx", parte da coleção "Folha Explica", apresenta um estudo atualizado e sintético das principais ideias do filósofo alemão. Conceitos como alienação, mercadoria, capital, dialética do capitalismo, fetichismo, ideologia, crise e revolução são observados de maneira crítica e didática.

Saiba mais e leia introdução do livro.
Entenda a crise econômica pela ótica de Karl Marx

O autor do livro, Jorge Grespan, professor de Teoria da História da USP, classifica a obra de Marx como "profética".

Entre as "profecias" de Marx, comentadas no livro, estão a irradiação da forma de mercadoria a quase todos os produtos e relações sociais, o surgimento dos conglomerados financeiros e industriais e a crescente substituição de mão-de-obra por máquinas cada vez mais sofisticadas.

"O poder de previsão de Marx foi tão grande que o mundo em que vivemos acabou se tornando demasiado semelhante ao das tendências descritas por sua obra", conclui o autor. Abaixo, leia um trecho do livro.

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O CAPITALISMO

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De início, é como circulação de mercadorias que aparece a relação entre força de trabalho - mercadoria vendida pelo trabalhador - e capital - o dinheiro com que o capitalista compra essa mercadoria, isto é, com que paga o salário. Nessa esfera de circulação, o dinheiro do salário é equivalente ao valor da força de trabalho, como ao de qualquer outra mercadoria. Aqui reina a equivalência das trocas, a igualdade entre capitalistas e trabalhadores, a isonomia jurídica entre as partes que celebram contrato, vista no capítulo anterior.

A desigualdade social entre eles aparecerá na realidade do contrato, isto é, quando o trabalhador trabalhar para o capitalista, Ele o fará utilizando matéria-prima e instrumentos que são de propriedade do capitalista, de modo que também a este último caberá a propriedade do produto. Em troca do seu trabalho, o trabalhador receberá do excedente de valor, a mais-valia, que explica a lógica do capitalismo.

Pois o Valor que a força de trabalho deve receber para repor seu dispêndio de energia física e mental, para poder continuar trabalhando e criar filhos que trabalharão no futuro - esse valor, que se realiza no salário, é totalmente distinto do valor do produto que o trabalhador produz para o capitalista vender. A força de trabalho e o seu produto são coisas independentes uma da outra, de modo que seu valor também o é. Se o valor do produto for maior que o da força de trabalho, a diferença dos dois representará um ganho para o capitalista, o "mais-valor" ou "mais-valia". Se for menor, haverá perda, e não valerá a pena para o capitalista contratar mão-de-obra e produzir.

Como o valor se calcula em tempo, tomando uma jornada de trabalho é fácil verificar que num certo momento, depois de algumas horas, os trabalhadores produziram uma quantidade de produto que, se vendido pelo capitalista, permitiria a ele já pagar os salários. É o que Marx chama de "trabalho pago". Só que os trabalhadores trabalham para o capital e não para si mesmos. No contrato proposto pelo capitalista, eles devem trabalhar por uma jornada mais longa do que aquela suficiente para criar o equivalente aos seus salários. O valor que eles produzem nesta segunda etapa é o que corresponde à mais-valia ou ao "trabalho não pago". Em princípio, de qualquer maneira, trata-se de dois valores distintos.

Ou seja, a mais-valia não surge necessariamente da sub-remuneração da força de trabalho. Nas palavras de Marx, "a circunstância de que a manutenção diária da força de trabalho só custa meia jornada de trabalho, apesar de a força de trabalho poder operar, trabalhar um dia inteiro [...] é grande sorte para i comprador, mas, de modo algum, uma injustiça com o vendedor". 1

1 Marx, K, O Capital Volume 1, Tomo 1

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